quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010


OS ANOS 90


 1996 - 2003

Os retratos das ausências são a explicitação do percurso de 93 a 96, com algumas diferenças significativas: as formas cingem os corpos e uma luz dourada e colorido acentuado invadem as telas. As deformações estão ausentes. Trata-se agora de retratos, enquanto tal, mas se assim é não temos presenças visuais explícitas. É como se de ausências se tratasse, como dizer que ali estiveram, permanecendo indefinidos. A atitude é presente, mas só ela. É o gesto da personagem que fica marcado no espaço figurativo e só ele. E as diferenças com a fase anterior estendem-se ao modo de fazer. Pintura mais elaborada, com precisão de desenho e sucessivas veladuras, trabalhando o desfazer da cor e originando progressivos planos de profundidade. A composição ganha presença no seu conjunto e define atmosferas específicas,
De-per-se, 2000, Pastel sobre papel, 97,5 x 63




Reflexão, 2001, Óleo sobre tela,150 x 100
Amanhecer de Quinta-feira, 2002, Óleo sobre tela, 162 x 130


Ainda, 2000, Óleo sobre tela,92 x 73
Violeta de Maio, 2002, Óleo sobre tela,  92 x 73

É ele, 2000, lápis sobre papel, 100 x 71 
A Outra; Aqueloutra, 2001, Óleo sobre tela, 146 x 97; 146 x 97


Montijo - 1993 - 1996



 A estranha história da deformação dos corpos. As figuras surgem como que esvaziadas guardando somente a presença do que está ausente. É como que manter o invólucro quando o conteúdo foi suprimido. A resultante surge como que a declamação do mistério sugerido, Acrescentando uma sistemática deformação da representação, a relação entre o sugerido e o representado torna-se dúbia, tanto mais que as formas  "amolecem" na luz difusa quando os materiais utilizados permitem facilmente essas características. Já na utlização do lápis procura-se a firmeza do contorno e a explicitação clara das superfícies.



Sou Eu, 1996, Pastel sobre papel, 60 x 45



Alguém; Ele, 1998, Óleo sobre tela, 138 x 70; 138 x 70
Alguém
O Olhar Sereno, !996, Pastel sobre papel, 60 x 45


As Três Virtudes a Preto e Branco. 1993, Lápis sobre papel, 93 x 57, 93 x 50, 93 x 57



As Meias Roxas; O Manto Azul, 1994, Pasrtel sobre papel, 100 x 80; 100 x 80

















Encontro em Rosemberg, 1995, Óleo sobre tela, 100 x 80

Lidando com o antropomorfismo explícito, que não com a representação da figura humana. estabecem-se representações como que "naives", enquanto "imagens de epinal", contando por vezes histórias.
Função do tipo de material utilizado, esboçam-se ambientes lunares, dada a coloração esbranquiçada que salienta as figuras. Falsas molduras, fazendo parte integrante da representação, rompem o equilíbrio e ajuntam cor ao conjunto, de modo discreto ou pontual. É um mundo fantasmagórico onde as personagens não são exactas, não têm braços, não pertencem ao mundo do dia a dia. Corpos deformados, dando primazia a um discurso de intenções mais do que contando coisas reais.

Figura com Risco Verde, 1996, Óleo sobre tela, 100 x 80








O Paraíso, 1994, Lápis, lápis de cor e pastal sobre papel, 100 x 80; 100 x 80

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

OS ANOS 80


Lisboa - 1984 - 1993

Os gestos da terra


Solicitude, 78 x 45; A Mão Gruta, 78 x 40; Arvorescência, 78 x 45, 1989, Têmpera sobre cartão prensado

As formas do invólucro que cinge as mãos, as luvas que as ornamentaram ou protegeram, a mão ainda na sua memória deitada por terra, memória deitada por terra e envolta em lama, poeira agora que já seca, autonomizando-se e guardando a saudade do gesto do que foi: outra coisa bem diferente. Gestos da terra em tudo que podem ter de específico, como se sabe que esses gestos têm de familiar estranheza e de telúrico. Os gestos da terra declamam essa poética de enaltecimento do estranho familiar, intimista pelo seu modo de expressão e escala gráfica, exigindo proximidade no modo de ver. É o caminho percorrido por formas vislumbradas no real imaginário do movimento do lápis sobre o papel, quase sempre roçando o virtuosismo técnico e demonstrando que o risco pode criar imagens deslumbradas, porventura ascéticas na sua formulação e expressão, mas deslumbradas na magia do inventado.


 
A Estela, 1987, Lápis sobre papel, 80 x 70                                                                   Dança Nupcial, Lápis sobre papel, 48 x 36



 São figuras introvertidas. Não se situam no campo: não têm qualquer tipo de relação com a envolvente. Estão sobre uma página branca, sem mais. Fechadas sobre elas mesmas, ignoram tudo quanto as rodeia. O gesto fecha-se de modo autista. O gesto da terra é um retorno. Vai-se da rigidez de uma qualquer Petridade à fingida moleza da Florescência. O rendilhado de a Estela ou de o Retorno contrapõe-se à firmesa afirmativa de a Dança Nupcial e à leveza dos esboços. Depois, subitamente, será a violência expressiva de os últimos trabalhos da série, realizados a têmpera sobre cartão (Solicitude, A Mão Gruta, Arvorescência).






A Coroa do Rei, 1986, Lápis sobre papel, 70 x 80








O Retorno, 1989,. Lápis sobre papel, 40 x 60


A Teia, 1989, Lápis sobre papel,48 x 36

Florescência, 1987, Lápis sobre papel, 35 x 30

É uma época de desenho a lápis no reconhecimento da nobreza desse meio técnico que, suscinto na   expressão, nada escamoteia e tudo permite. De grande riqueza melódica como que espaça os tons, definindo com precisão a melodia e salientando toda e qualquer eventual cacofonia. É de uma exigência enorme e de um grande potencial expressivo. Os Gestos da Terra foram em busca de isso mesmo.

Petridade, 1989, Lápis sobre papel, 50 x 40

sábado, 20 de fevereiro de 2010


OS ANOS 70


Lisboa - 1974 - 1984

Outros afazeres inadiáveis.
Grande e inadiável actividade sócio-política atravessa a época. Essas coisas da expressão artística são relegadas para o esquecimento. O pouco que é realizado enquadra-se no tipo de vivência desses tempos e abrange o campo da comunjcação visual,

Vinhetas para a Comissão de Moradores do bairro da lata e para a Associação 25 de Abril



Diploma de participação das crianças nas comemorações do aniversário do 25 de Abril 
Cartaz anunciando os cursos de comunicação visual na Biblioteca Operária Oeirense






Paris - 1970 - 1974

O Pequeno Túmulo do Sr. General, 1971, Objectos diversos sobre caixa. Recpberto de gesso atirado, 120 x 60 x 50
A quarta dimensão
Nos efervescentes anos dos finais de 60 nem de outra maneira podia ser. Numa viagem pelo tridimensional experimenta-se a associação de objectos para obter construções volumétricas, portadoras de "mensagens", sempre afirmativas de fazer de uma maneira espontânea. Ausência de cor. Branco manifesto, sem que por lá se neutraliza a aparência, antes libertando o volume, sublinhando a mensagem.
E o experimentalismo prossegue por áreas do cinetismo, utilizando motores eléctricos para obter, através de sistemas mecanicos, movimentos aparentemente aleatórios, imprevistos e imprevisíveis.
Das fotos que ficam, a Espiral Torcida gera cores em movimentos de elipse que sobem sem fim há vista.
A Amiba Pesquizadora é de uma sensualidade estranha e intensa. Sob o véu/invólucro (collants remendados) as saliências aparecem e desaparecem ao sabor de não se sabe qual vontade ou desejo,  de mistura com os ruidos que os seus mecanismos geram.





A Amiba Pesquizadora, 1974, Motor eléctrico, sistema mecanico de movimentos de vai e vem envergadura -+ 120




A Espiral Torcida, Lâminas metálicas coloridas movimentadas por motor eléctrico

São exemplos da pesquisa realizada então, obtendo o efeito de objectos aparentemente incontroláveis, alguns agressivos ouros sedutores.
Já a teia da Aranha Desejada, como teia que se preza, é imóvel e estável, mas a mobilidade dos pontos de luz que a iluminam criam impoderàveis reflexos, indefinidos reflexos que se passeiam na teia e que manifestam o intenso desejo pela aranha ausente.
O aspecto lúdico destes objectos, estranhos e de presença impositiva contêm em si mesmos atracção e exercem e estabelecem um discurso de imponderável significância (de que?) que remetem para a sedução e repúdio em simultâneo.








O Vale dos Ovos, 1971, Objectos diversos sobre aglomerado recoberto de gesso atirado, 80 x 75











         

  A Aranha Desejada, 1970, Fios metálicos em estrutura sob tensão


Modelo vivo. Desenhado soobre rolos de papel, em fracção de segundos, irreptível e arriscado.




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OS ANOS 60

Paris - 1966 - 1971

Todas as experiências.

E depois é Paris! com toda a carga mítica do imaginário (ainda romântico) e que será para além disso um percurso de mudança e de exigência, dífícil na mudança com a aprendizagem anterior e naturalmente exigente no novo percurso a estabelecer, um caminhar no desconhecido sempre posto em causa.
No Atelier do Mestre André Michel ensinava-se uma pintura e sobretudo um desenho aparentemente clássicos.

 De facto só na aparência, pois que se tratava de aprender a gramática e a sintaxe do bem fazer e fazer bem, cabendo a cada um escrever os seus próprios textos, sempre incitado pelo Mestre a romper barreiras e reencontrar-se a si mesmo.
Então vai-se do desenho de observação demoradamente construido ao desenho de documentação estabelecido rapidamente até à procura da expresividade em anotações em fracções de segundos.
De mesmo se passa naturalmente com a pintura, havendo ainda o incentivo de se encontrarem caminhos diversos na agitada cena artística do Paris de então.
A Paisagem em Vermelho, 1968, Óleo sobre tela, 110 x 60










A Sagração da Primevera, 1967, Óleo sobre contra-placado, 52 x 11o                   Ao Anoitecer, 1968, Óleo sobre tela, 55 x 65





Mozart ou os Teus Sonhos (à direita); Sociedade (à esquerda); Lápis de cor sobre cartolina, 60 x50; 60 x 50



No atelier André Michel, desenhos de observação de naturezas mortas e de paisagens no ano de 1968









Braga - 1963 - 1966


A sedução da "arte"

Numa certa forma de expressionismo o carvão ou o pastel correm rápidos sobre o papel. Pouca preocupação com os detalhes, pretendendo-se captar o ambiente/características do modelo. Terão a primazia  sensações visuais e não tanto a análise "objectiva" das formas. Serão trabalhos que valorizam as impressões em detrimento da realidade. Na cor também (não presente nestas fotografias) e  que seria usada para expressar as impressões recebidas sem ter em conta a sua presença de facto.


A miscelénia das vivências de um ambiente de atelier, pela primeira vez,  mesmo se fechado num conservadorismo então vigente, está com certeza na base da volubilidade das sensações.
Utiliza-se o carvão e o pastel, trabalhado com os dedos, procurando talvez o imediatismo das sensações, físicas também.
É uma proximidade corporal que se expressa.




O Modelo, 1965, Catvão sobre papel, 100 x 80
                 

 Machado, o cão e o António, 1964, Pastel sobre papel, 100 x 72


O Machado, 1964, Pastel sobre papel, 77 x 58





O Machado e  o António eram presenças assíduas, enquanto modelos, no atelier do Mestre Alberto Campos. Do seu miserabilismo ataviado em fatos domingueiros aqui ficam os retratos, mais o do José que por lá também passou.

São ainda retratos, mas tomados ao vivo, o que significa fortemente uma outra dimensão de expressão plástica e um conjunto de novas condicionantes.

A mudança é flagrante, se comparados com os retratos em baixo, mais o situado à esquerda e que provavelmente é copia de uma fografia. Já o situado à direita parece anunciar o que se virá a passar.




Sem Título,1963, làpis sobre papel, 29 x 21                                                   Sem Título, 1963, lápis sobre papel, 29 x 21